Foto: Charles Guerra (Diário)
No lançamento do livro "Por Que Santa Maria?", Pedro Aguirre falou em nome dos santa-marienses por adoção
Nascido em Quaraí, mas santa-mariense de coração, Pedro Lecueder Aguirre, 78 anos, é um expoente da Educação do Rio Grande do Sul. Formado na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, local onde estudaram figuras como Fernando Henrique Cardoso, Ricardo Lewandowski, Paulo Henrique Amorim, Roberto Simonsen, entre outros nomes famosos, ele foi professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), onde se destacou na área da Sociologia, Comunicação e Metodologia da Pesquisa Científica. Pedro Aguirre é casado com Maria Eulina Dias Aguirre e é pai de Pedro Régis, Tatiana e Ricardo. Além disso, o professor foi secretário de Educação de Santa Maria em três oportunidades. Nesta entrevista, ele conta detalhes e curiosidades sobre a trajetória na academia e na administração pública.
Foto: Arquivo Pessoal
Ao lado do prefeito Osvaldo Nascimento (a dir.) e do prêmio Nobel de Economia, o austríaco Friedrich Hayek (a esq., de cabelo branco
Diário - De que forma surgiu o seu interesse pela área da Educação?
Pedro Lecueder Aguirre - Meu pai tinha comércio na fronteira com o Uruguai, em Artigas. Eu gostava de dinheiro, de trabalhar nos negócios de bolicho. Entretanto, quando eu terminei o período ginasial, fui fazer o científico em Uruguaiana. Lá, aos sábados, eu ia assistir aulas de filosofia, com o Padre José Rubens Pillar. Ele era professor da Faculdade de Filosofia de Uruguaiana. A partir deste momento, comecei a mudar o meu perfil, de um jovem que via no dinheiro algo muito importante para alguém que tinha um olhar mais cultural. Mais tarde, eu passei a cursar filosofia pura na escola Vicente Palotti. Em meados dos anos 1960, também ingressei no curso de Direito da então Universidade de Santa Maria, atual UFSM. Me formei nas duas áreas.
Diário - Qual foi o maior aprendizado no período em que o senhor estudou na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo?
Pedro Aguirre - Foi o grande lance que eu dei na minha vida. Na época, as universidades estavam começando a exigir pós-graduação para que a pessoa pudesse se tornar docente. A fundação era o melhor centro de ensino do assunto na América Latina. Para entrar, era necessário apresentar um projeto, além de se encaixar nas exigências de títulos. Aprendi com o professor Antonio Rubbo Muller, o primeiro docente brasileiro a estudar em Oxford, a Teoria de Organização Humana. Foi um grande aprendizado.
Foto: Arquivo Pessoal
Pedro Aguirre fala na inauguração da primeira Escola-Núcleo, em São José da Porteirinha
Diário - Na sequência, quais foram os passos que o senhor deu em busca de qualificação?
Pedro Aguirre - Quando eu vim dar aula na UFSM, precisei ensinar metodologia de pesquisa cientifica. Porém, eu tinha aprendido a pesquisa da escola francesa, que é bem mais epistemológica e filosófica e a universidade exigia que fosse ensinada a pesquisa aplicada. Voltei para São Paulo e fiquei seis meses na Fundação Getúlio Vargas estudando apenas a pesquisa no modelo americano, que é fechadinha, prática. É importante frisar que eu nunca me apaixonei por teoria nenhuma. Sempre busquei nas teorias o que elas tinham de mais acessível, mais aplicável. Fico muito triste quando eu ouço falar que querem dar um purismo ideológico às universidades. No momento em que isto acontecer, a universidade estará morta. A grande contribuição que as instituições de ensino superior podem dar para a comunidade é no campo da diversidade de pensamento.
Diário - Como surgiu a oportunidade de trabalhar na prefeitura de Santa Maria?
Pedro Aguirre - Nos anos 1990, eu já tinha um nome consolidado na Educação de Santa Maria. Eu ajudei a organizar diversos eventos importantes no CCSH que trouxeram várias figuras de destaque para o Coração do Rio Grande. Entre elas, Aparício Silva Rillo, José Hilário Retamozo, Alceu Collares, Friedrich Hayek, que ganhou o prêmio Nobel de Economia em 1974. O Lula, por exemplo, ministrou uma palestra no Centro Cultural de Santa Maria lotado. O Centro Cultural ficava onde está, atualmente, o Theatro Treze de Maio. A Rádio Imembuí transmitiu a palestra porque faltou lugar. Então, fui convidado pelo Evandro Behr para trabalhar na gestão dele. Depois, trabalhei mais quatro anos com o prefeito Osvaldo Nascimento, na virada dos anos 2000, e mais dois anos com o Cezar Schirmer. Tive um desentendimento com o Schirmer por conta da concepção errada que ele tinha da Educação. Ele tinha sido meu aluno na universidade. Pude ajudar Santa Maria a ter o melhor projeto de educação rural do Brasil, as Escolas-Núcleo. Este projeto elaborado e executado em parceria com a professora Irene Fernandes dos Santos, o professor Alberto Reckziegel, e os secretários Ricardo Barcellos e Juliano Pasquim. Tivemos aqui, também, o melhor projeto brasileiro de controle de evasão escolar, com a Luci Tia da Moto, na gestão do prefeito Osvaldo. A Globo colocou equipe aqui para fazer matéria sobre.
Foto: Arquivo Pessoal
Em meio a diversas autoridades, na comemoração dos 70 anos do Rotary Club de Santa Mari
Diário - Quais as principais lembranças que o senhor tem da época em que foi docente do Centro de Ciências Sociais e Humanas da UFSM?
Pedro Aguirre - Quando eu ingressei na UFSM, fiz um programa de ensino de departamento adequado à universidade. Como professor, eu era exigente, eu nunca atrasava. A maioria das minhas aulas era na Antiga Reitoria. Tive vários alunos notáveis, o Luizinho de Grandi, por exemplo, foi meu aluno no curso de Administração. Na academia, tive duas grandes bolsas de estudo. Uma no Rio de Janeiro, na Escola de Guerra, por conta da minha pesquisa "A politica externa dos Estados Unidos e a politica dos direitos humanos do presidente Carter em relação aos objetivos nacionais permanentes do Brasil". Todo mundo queria saber sobre esse trabalho. Depois, fiz uma pesquisa sobre a Guerra das Malvinas e as suas consequências para o poder nacional anglo-argentino. A embaixada da Inglaterra em Brasília me convidou para apresentar essa pesquisa na Inglaterra. O que me deixa triste é que, aqui no Brasil, com 50 anos mais ou menos, você é colocado para fora da universidade. Na Inglaterra, há professores com 70, 75 anos, orientando ótimas pesquisas. Fiquei na UFSM até me aposentar. Não parei de estudar. Estou atualizado. O dia em que eu parar de estudar, vou ter uma frustração pessoal muito grande.